Entre Árvores e Esquecimentos

Entre Árvores e Esquecimentos

A partir de questões já vivenciadas em trabalhos anteriores como o abandono e a memória de espaços dentro do meio urbano, grandes cidades e metrópoles, propomos uma ação coletiva pensada para acontecer no Centro de Vitória. Serão mapeadas 16 casas e/ou prédios em situação de abandono, nos dias que antecederem o dia 11 de Novembro. Esses espaços serão sinalizados com uma tag (entre árvores e esquecimentos) relacionando-os ao mapa disponibilizado no blog da Casa nº16 juntamente ao projeto da ação. No dia 11/11 as 11:11, serão detonadas 16 bombas de fumaça colorida na cor vermelha, uma em cada espaço mapeado. Essa ação será filmada e postada no blog da Casa nº16 e no blog do Evento “BOOM”.
A relativização do tempo se faz cada vez mais presente. A casa nº16 enquanto coletivo que se formou a partir da experiência em um espaço de convivência, vivencia agora o fechamento de um ciclo, a desapropriação de seu espaço de origem nos fazendo pensar sobre o fazer artístico no cotidiano (em que há sobretudo uma necessidade de questionar e debater, tencionar). Produzindo - cada qual com suas linguagens – novos diálogos.
Reflexões sobre a política (política do grego antigo e se refere a todos os procedimentos relativos à pólis, ou à cidade-estado) que nos cerca. Quais são de fato os ritos de nossos sistemas? Macro e micro sistemas, orgânicos ou não, que, encadeados, vivenciam diferentes tempos. Pessoas e espaços em diferentes níveis de construção/desconstrução. E o que há de eterno no efêmero? Contagem regressiva sempre.










Do "Livro do Desassossego"
Fernando Pessoa

Não sei sentir. Não sei ser humano.
Não sei conviver de dentro da alma triste,
com os homens, meus irmãos na terra.

Não sei ser útil, mesmo sentindo ser prático,
cotidiano, nítido.

Eu vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo,
mas tudo ou sobrou ou foi pouco.
Não sei qual, e eu sofri.
Eu vivi todos os pensamentos,
todas as emoções, todos os gestos
e fiquei tão triste
como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.

Amei e odiei como toda gente,
mas para toda gente isso foi normal e instintivo.
Para mim sempre foi a excessão,
o choque, a válvula, o escape.

Não sei se a vida é pouco ou demais pra mim.
Não sei se sinto demais ou de menos.

Mas seja como for, a vida,
de tão interessante que ela é a todos os momentos,
a vida chega a doer, a cortar, a roçar, a ranger,
a dar vontade de dar pulos, de ficar no chão,
de sair para fora de todas as portas, de todas as casas e ir ser selvagem, entre árvores e esquecimento.